18/12/09

Metáforas I: O Lobo Solitário, o Coiote, o Cão de Guarda e o Carneiro (Parte I)



O Lobo Solitário representa a mais elevada forma de dedicação ao Mar e ás Ondas. O Lobo Solitário percorre o mundo em busca da onda perfeita, do dia épico e daquele momento único, que talvez não se repita novamente ao longo da sua existência. O seu objectivo de vida é esta busca, desprovida de qualquer intenção de reconhecimento, ego, fama ou interesses financeiros. O Lobo Solitário vai sozinho, encontrando por vezes outros iguais, na sua busca pessoal por alimento espiritual que apenas a energia da Ondas proporciona. Apenas isto é principal. Tudo o resto é supérfulo, acessório, pouco importante e sem qualquer sentido ou justificação. O Lobo Solitário alimenta-se em paragens despovoadas e inóspitas onde apenas pode contar consigo mesmo.

Este espírito indomável representa a essência de surfar
e por isso mesmo esta figura sofre de plágio, por parte do surf-business que através dos seus cães de guarda, lhe tentam usurpar falsamente o lugar. Um exemplo disto pode ser visto no recente filme "The Drifter" no qual um tal de Rob Machado (um cão de guarda que dizem ser importante...) aparece como alguém que, farto dos campeonatos e do "crowd" que o próprio ajudou a aumentar na Indonésia, finge ir sozinho à descoberta da "onda perfeita e sozinha". Tudo neste filme é um fingimento e uma ficção que se tenta passar como verídica para o mais desatento espectador. "Sozinho", mas com um jipe sempre atrás, com o seu "staff" de apoio, pranchas novas, cameras de filmar, fotografar e tudo o resto finge enfrentar uma série de privações e desafios, que seriam realmente genuínos se tivesse a coragem de fazer deste filme de ficção uma realidade e aventurar-se realmente "by himself", mas isto não lhe pagaria o ordenado, pois não traria qualquer retorno à marca que o sustenta e a quem presta vassalagem. É de notar as roupas velhas, o cabelos descuidados e o corpo sujo, mas sempre com a sua mochila em óptimo estado na qual se pode ler a marca que o patrocina. Resumindo o filme é uma falsidade e uma ofensa a todos aqueles que têm a coragem de sozinhos aventurarem-se pelo mundo contando apenas com a sua força e a sua vontade.

O Lobo Solitário, na sua essência,
corre o risco de se extinguir, sendo substituido por um falso e oportunista cão de guarda.

03/11/09

Campeonatos do mundo e outras coisas realmente pouco importantes II: O surf turismo massificado

Associado ao turismo dos campeonatos, está também o turismo de surf de forma massificada, o qual tem sido alvo de estudos universitários e financeiros sobre a sua viabilidade e benefício económico para o país. Um "cluster" (mercado-alvo) por explorar dizem as iminentes figuras que se esqueceram de colocar nas suas equações matemáticas a mais importante variável que acenta no simples facto de que o excesso de praticantes não ser compatível com o desenvolvimento sustentável e sustentado da actividade e que ao massificar tendo em vista objectivos de milhões de euros por ano se mata a galinha dos ovos de ouro.

Num desses estudos era apresentado um panorama no qual 10 Km de costa portuguesa com ondas de qualidade e que tivessem em permanência 2000 (dois mil) turistas a ficarem na zona uma semana representaria uma receita anual de 100 milhões de euros. Ora 2000 turistas divididos por 10 Km daria 200 turistas por cada km ou seja 5 pessoas por metro, o equivalente à lata de sardinhas. Acrescentando a estes 2000 turistas outros 2000 residentes (certamente que serão muitos mais) dá para entender que algo iria correr muito mal com todos estes muitos mil praticantes dentro de água a disputarem ondas e claro está que esses 2000 turistas apenas teriam acesso aos restos de ondas que os residentes (já de si demasiados) lhes deixassem. Exemplos negativos como este são uma realidade na Austrália, California, Canárias e no Havai com todas as consequências negativas conhecidas ao mesmo tempo que continuam a existir projectos de engenharia marítima que poêm em risco alguma ondas conhecidas e que atraem milhares de turistas.

Até entendo a lógica bem intencionada de quem fez este estudo que teria como finalidade mostrar que a preservação das ondas poderia ser uma mais valia para a economia de uma região, mas na realidade este estudo é apenas baseado em factores técnicos esquecendo o factor humano que é o mais importante e complexo na avaliação de qualquer situação. Por outro lado colocar a questão apenas no dualismo: turismo massificado versus destruição das ondas é reduzir as opções, anular a democracia em que vivemos (ainda é uma democracia, não é? ou pelo menos dizem-nos que sim...) e apresentar argumentos errados para a resolução dos problemas ao mesmo tempo que se criam novos problemas em cima dos já existentes.

01/11/09

Campeonatos do mundo e outras coisas realmente pouco importantes I























Em Portugal durante este ano realizaram-se 5 "importantes" etapas dos circuitos mundiais
de bodyboard e de surf. Algumas mentes brilhantes afirmam que estes eventos são uma enorme vantagem para os desportos de ondas e até para a economia do país. Certo é que trazem dinheiro ao comércio local, que dinamizam a vertente competitiva nacional, que geram muito dinheiro e tal e tal. E para quem surfa (leia-se quem surfa apenas por prazer e amor à arte) quem vantagens trazem? Dos milhões ganhos que percentagem é usada para promover a preservação das várias ondas ameaçadas em todo o país? Será que nos locais onde foram realizadas essas provas deixaram de haver descargas de esgotos a céu aberto (Molhe Leste e Monte verde) ou que se aumentou a sensibilidade das autarquias para a preservação das Ondas?

Parece-me óbvio que qualquer receita financeira gerada por quaquer coisa relacionada com os "desportos de ondas" deveria reverter acima de tudo e em primeiro lugar em favor da comunidade e não apenas a favor dos competidores que ganham os prize-money ou para a economia local que aproveita a situação para ganhos extra sem qualquer reinvestimento no surf ou bodyboard nos seus diversos contextos. Algumas mentes brilhantes dirão que é um benefício, uma mais valia e outros argumentos similares poder ver ao vivo os melhores do mundo. Pois para mim este argumento nem sequer é argumento e acredito que existam mais pessoas que não se contentam em que o retorno do surf business perante a comunidade seja apenas presente-á-las com os melhores artistas do circo de surf e bodyboard mundial. "Com pápas e bolos..." diz o ditado popular.

Com os milhões ganhos e gastos não seria mais útil promover a construção de fundos artificiais que protejam a costa da erosão do mar, que aumentem a diversidade de opções e a qualidade das ondas em diversos lugares que sofrem de excesso de praticantes por m2. Isto sim seria uma vantagem real para toda a comunidade e o caminho mais correcto para dar resposta a actual realidade. Há que entender que o surf business tem uma lógica fechada na qual se serve a si mesmo e apenas áqueles que nele participam, esquecendo-se totalmente da sua base de sustentação que é a comunidade, que não compete, que é anónima e que de uma ou outra forma surfa por por amor à arte. O pior é mesmo quando uma parte significativa (talvez a maior parte mesmo...) dessa comunidade, não exerce o seu direito em exigir responsabilidade e contrapartidas em relação aos negociantes das ondas, abdicando do seu sentido crítico que foi trocado pela adoração dos idolos, dos campeões, das marcas e dos campeonatos para português ver.

21/10/09

Mar de Inverno

Hoje é o primeiro dia verdadeiramente de Inverno. É o primeiro dia de Mar de Inverno. Não está bom para surfar (talvez haja umas ondas num canto qualquer carregado de pessoas...), não está bom para os grandiosos campeonatos, não está bom para as fotografias, não está bom para impressionar as babes com a prancha, óculos e calções "surfing style". Apesar de não estar bom para surfar, está óptimo para perceber o que realmente é o Mar, pois é desta aparente escuridão que se aprende a ver de forma clara a verdade das coisas.

29/08/09

A Publicidade torna-nos estúpidos. A Publicidade toma-nos por estúpidos


Esta é a regra nº1 para quem leia uma revista de surf ou bodyboard
. As revistas de bodyboard e surf tem, de forma generalizada, como objectivo primeiro vender algo. Muitas afirmam-se como as responsáveis pelo desenvolvimento dos "desportos de ondas" ao mesmo tempo que promovem a defesa dos interesses dos seus praticantes, mas na verdade e na prática pouco ou nada mais fazem do que impingir modelos de comportamento tendo em vista o consumo das marcas que nelas anunciam.

Quase tudo numa revista é publicidade, quer seja esta paga ou não, directa ou indirecta, explicita ou encoberta. Como? As incessantes páginas de publicidade são a primeira linha e a mais óbvia, porém as entrevistas e as fotos com as marcas patrocinadoras estrategicamente colocadas têm como objectivo fazer passar uma mensagem: quem usar a marca X vai ser igual ao fulano que é campeão e que usa essa mesma marca. Esta é a base estratégica de toda a indústria do bodyboard e do surf: tentar convencer-nos que se comprar-mos os produtos que os "prós" usam seremos iguais a eles. Aqui reside a dualidade que dá origem ao título deste deste texto. Por um lado a publicidade julga que apenas por transmitir algo consegue convercer o público (ou seja toma-nos por estúpidos), por outro é bem verdade que pela "força" das mensagens transmitidas muitos se deixam facilmente convencer abdicando do seu sentido crítico (ou seja tormam-se estúpidos).

Lembro-me de ler algo sobre a estratégia de Marketing usada por uma grande marca, a qual fez coincidir a inserção de publicidade dos novos calções de um mega campeão do mundo com a distribuição antecipada e massificada desses mesmos calções em todas as lojas em que era vendia. A ideia era criar a necessidade (de ter os tais calções) e consequentemente provocar um comportamento de compra (o de comparar os tais calções).

Termino este texto com três questões. O que se poderá pensar de alguém que vai a correr comprar uns calções apenas porque são de um qualquer campeão do mundo? O que se deverá pensar das marcas de surf e bodyboard que usam todos os estratagemas possiveis e imaginários para impor os seus ideiais mercantilistas à comunidade com o objectivo de transformar cada um de nós num mero consumidor? O que pensar destas marcas e dos seus "cães de guarda" que visam o lucro fácil através da transformação da Arte de Correr Vagas de Mar num mero produto de consumo massificado, descaracterizado e estereotipado?

18/07/09

A "Sociedade Secreta" Irlandesa





















O barco mercantil dos exploradores sem alma brevemente será afundado...

Existe na Irlanda um movimento de Corredores de Vagas
cujo objectivo é travar, impedir e sabotar as iniciativas do surf-business. Antes da chegada deste Verão conheci um Corredor de Vagas irlandês, que após entender a minha perspectiva em relação às Ondas e ao acto de Surfar me falou de um grupo de conterrâneos seus que se opõem ao actual modelo de desenvolvimento dos chamados "desportos de ondas", baseado única e exclusivamente no negócio materialista, obliterando completamente a vertente espiritual desta actividade. Tentei em vão procurar na internet mais informação sobre este grupo, dai o título de "sociedade secreta". Pelo que sei é composto por corredores de vagas das várias disciplinas existentes nesta arte, os quais tem inspirações eco-ambientalistas passando pelo druismo e filosofias similares que buscam o encontro entre o ser humano e a sua Mãe Natureza. Sempre que possivel constroem as suas próprias pranchas e recusam o máximo possivel qualquer ligação ao "business" mercantil em que o mundo das Ondas se tornou. Paralelamente desenvolvem frequentemente actividades de boicote a campeonatos, divulgação de Ondas em surfmags e todo o tipo de acções que visem por um lado divulgar a vertente "soul" e por outro impedir que o lado comercial tome conta da zona onde habitam.

Em Portugal este tipo de mentalidade pró-activa e anti-comercial encontra alguns pólos de actividade, sendo nas Regiões Autónomas que se verificam os mais fortes sinais da sua existência, dado que no rectangulo continental o lado obscuro do negócio já consporcou quase totalmente o panorama com as consequências que se conhecem, sem que dai não tenha vindo nada de positivo para quem surfa por amor à arte.

Durante muitos anos a Cocovama açoriana pôs em prática o lema "Soul surfers são benvindos. Surfistas profissionais e fotógrafos vão para casa", nesta perpectiva recebiam bem quem sabia respeitar a essência das coisas e convidavam a ir embora os que não vinham por bem...

Na Madeira, apesar de "não-organizado" existe um movimento que fez frente e impediu a realização de campeonatos internacionais que alguns "gurus" continentais desejavam organizar na Região. O seu argumento é simples e credível: a realização destes campeonatos nada tráz de positivo, servindo apenas para explorar as Ondas sem qualquer tipo de benefício para os residentes que surfam. Por outro lado iria dar razão às autoridades madeirenses que afirmam que as continuas construções marítimas em nada afectaram a qualidades das Ondas. Qualquer um sabe que algumas destas Ondas foram seriamente afectadas e outras completamente destruidas.

Posto isto, são de louvar todos os que não se submetem à vontade alheia e que se batem pela manutenção de valores que vão muito mais além do que a vontade do vil metal e dos seus seguidores.

28/05/09

Algumas Verdades Inconvenientes


O mundo das ondas na sua vertente comercial é um nunca mais acabar de falsidades, oportunismos e outras situações pouco claras e dúvidosas onde tudo vale em troca do vil metal. Quem surfa é visto apenas como um consumidor e o acto de Correr Vagas de Mar tornou-se num produto, tal como um sabonete, uma pasta de dentes ou outra qualquer coisa que se possa comprar num vulgar supermercado. Antes que surjam os comentários oportunistas, refiro mais uma vez que não sou contra a existência de marcas de bodyboard ou surf, o que sou é contra é o modelo baseado exclusivamente no lucro que as marcas comercias impõem. Que me "desculpem" os ofendidos ou os visados.

Algumas Verdades Inconvenientes:

1)As mentalidades de quem surfa estão tão condicionadas e manipuladas.
Que quem atacar ou simplesmente discordar do que é dito pelos "grandes gurus" do surf/bodyboard business é automaticamente olhado de lado e ostracisado. As marcas passaram a ser o simbolo social das ondas, sendo para muitos mais importantes do que as mesmas.

2) O conteúdos dos media da especialidade é totalmente dominado pelas marcas anunciantes. Os artigos e textos contidos nas revista e sites comerciais tem como objectivo servir os interessses das marcas que nestes anunciam, o que condiciona o tipo de informação distribuido de forma a influênciar o modo de pensar dos leitores, o que pode ser considerado como uma forma de falta de liberdade de impresa e manipulação. Esta situação tem como objectivo transformar os leitores em consumidores e apoiantes das iniciativas desenvolvidas pelas marcas em particular e pelo negócio de uma forma geral. A prova desta situação está no facto não ser possivel(ou rarrissimo) encontrar artigos de opinião que critiquem a forma de actuação de determinada marca ou de iniciativas associadas ao negócio das ondas.

3) Os campeonatos não são eventos desportivos, mas sim eventos promocionais, que visam única e exclusivamente promover comportamentos de compra. O que se pretende é promover os patrocinadores e patrocinados de modo a que se crie a ideia: se o "campeão" usa a marca A e venceu o campeonato então qualquer um que use a marca A poderá ser igual ao "campeão". Através de estatégias de marketing usa-se a ingenuidade, imaturidade e até pobreza de espirito dos espectadores/consumidores para alcançar objectivos meramente comerciais. Recentemente gerou-se a falsa ideia de que os campeonatos são úteis para a preservação das Ondas, pois contribuem para a sensibililazação das autoridades para a não construção de estruturas que destruam as Ondas e para evitar ou acabar com a poluição do Mar em zonas onde são praticados "desportos naúticos". O (falso) argumento é que só valorizando o lado económico se poderá dar valor as Ondas e assim preservá-las. Alguns factos que provam que os campeonatos (e a massificação dos desportos de ondas) em nada contribui para resolver o problema:

- Na Madeira eram realizados campeonatos internacionais, existem associações desportivas ligadas ao surf e bodyboard e a divulgação das ondas é um facto. Posto isto duas ondas conhecidas foram extintas e outras duas muito conhecidas sériamente danificadas. Ainda não acabou...

- Em Peniche (autodenominada a capital da onda), onde quase semanalmente se realizam campeonatos, onde foi inaugurado um Centro de Alto Rendimento para o Surf (!!!), onde os "atletas" dentro de águas, o turismo de surf e as escolas são demasiadas. Apesar disto no Molhe Leste desagua diariamente uma ribeira/esgoto de água preta nauseabunda. No Molhe Leste são realizados campeonatos. Ainda no continente, em Ribeira d'ilhas (a suposta meca do surf nacioanal segundo a Câmara Municipal de Mafra) a Etar construida deita para o canal da onda as águas provinientes do "tratamento" de esgotos, a qual segundo os engenheiros até serve para regar os jardim...mas não serve para ser bebida, "mas a surfar não se bebe àgua" dizem os engenheiros entendidos. Não são raras as vezes em que há suspeitas bem reais de que durante a noite há descargas sem tratamento. Existem clubes, campeonatos, muitos campeonatos e crowd, muito crowd. A continuação de exposição de exemplos seriam infinita.

- Em Mallaea, em Maui (Havai) na grande meca do surf mundial, com campeonatos, fotografos...(e tudo o resto x50) a onda mais rápida do mundo está ameçada pela construção de uma marina.

- Em Jefery's Bay, uma onda superlotada, com muitos campeonatos por ano e numa zona onde a população de praticantes é exorbitante, está ameaçada...

Uma ida ao site savethewaves.org demonstra a quantidade de lugares amplamente conhecidos e reconhecidos a nivel mundial onde existem ondas ameaçadas, o que demostra que a massificação não resolve nada e apenas acrescenta mais problemas aos existentes.

4) O discurso pseudo ecologista/ambientalista dos promotores do surf/bodyboard business é baseado na hipocrisia. Não existe difrença alguma entre um promotor imobiliário que olha para um espaço natural não urbanizado e ai constroi uma série de condominios e um promotor do negócio das ondas que olha para uma praia como um empreendimento onde instala surf schools e actividades baseadas no aumento de pessoas na água. Esta comparação é exactamente igual para quem divulga ondas desconhecidas como o intuito de se auto promover ou ganhar dinheiro com fotografias das mesmas. O principio base presente nas situações é exactamente o mesmo: a ganância. Quer o promotor imobiliário quer o promotor do negócio das ondas pegam num determinado espaço e destroem as suas características de modo servirem os seus interesses monetários. Se quem surfa não tem qualquer pudor em explorar (e destruir ou descaracterizar determinada realidade), que legitimidade tem em criticar o promotor imobiliário que faz o mesmo no seu campo de actuação ou negócio?

5) A guerra entre o surf e o bodyboard é uma imbecilidade liderada por imbecis. Numa primeira fase este conflito tinha uma razão territorial, pois face a uma nova "espécie" (o bodyboard), a "espécie" vigente (o surf) sentiu-se invadida, o que gerou situações de mal estar e uma rejeição inicial em relação aos praticantes de bodyboard. Apesar de ter um carácter duvidoso este conflito inicial poderá ser entendido ainda que não aceite como argumento. Actualmente este conflito ganhou um contorno sinistro, pois passou a ter por base questões comerciais. Existem abertamente disputas de patrocionios e correspondentes dinheiros entre o surf e o bodyboard. Existe mesmo quem incentive esta guerra meramente por questões de publicidade em revistas. Ambos os lados reclamam ser os detendores das maiores façanhas aquáticas de modo a que isso revertam em apoios estatais, publicidade e patrocinios. A guerra actual é meramente uma guerra comercial, na qual o surf, simplesmente não quer saber do bodyboard. Por seu lado os mentores do bodyboard comercial reclamam de tudo e de todos como se a existencia ou não de apoios fosse realmente importante para quem quer surfar.

6) Os preços dos materiais usados para surfar é desmesuradamente inflacionado desde o seu custo de produção até ao preço de venda. Acualmente a maior parte da indústria do surf e bodyboard deslocou as suas fábricas para o Oriente, onde a mão de obra é mais barata, onde os salários são irrisórios e os direitos dos trabalhadores quase inexistentes. Posto isto conseguem-se preço de custo muito baixos, o que aumenta exponencialmente os lucros na venda final dos produtos ao consumidor. Recentemente alguém ligado á venda de prancha de bodyboard em Portugal dizia-me que o preço de fabrico médio de uma prancha seria de 15 euros (refiro-me a pranchas de qualidade media/alta produzidas na maior fábrica de prancha do mundo instalada na Indónésia). Estas mesmas pranchas dependendo da marca ou modelo têm um preço final entre 200 e 250 euros, o que corresponde a uma inflação de mais de mil porcento (1000%) no custo final. Esta mesma equação aplica-se certamente a todo o material fabricado naquela parte do Oriente: restos de petróleo+mão de obra barata+exploração laboral = altos lucros.

Lendo este pequeno texto tirado do iol.pt pergunto-me onde está o retorno social e ambiental destas marcas a nível nacional e mundial. Não deveriam estes "senhores" dar um contributo visivel para questões ambientais, construção de fundos artificiais etc, etc, etc. "Só em Portugal, as lojas de venda de produtos relacionados com o surf, como a Quiksilver, Billabong e Rip Curl, movimentam entre 30 e 40 milhões de euros por ano. Só a Quicksilver, líder do mercado, facturou em 2008 cerca de 13 milhões de euros e a casa-mãe mais de mil milhões de euros, posicionando-se já como a quinta maior marca de desporto do mundo."

17/05/09

A Mãe de Todas as Ondas

A Mãe de Todas as Ondas não é apenas uma onda, é uma entidade viva, uma conjunção de fenómenos e de elementos que lhe conferem personalidade e vida própria. Por vezes chama por companhia, outras avisa que quer dançar sozinha.

A Mãe de Todas as Ondas é a medida de equivalência (não de comparação. pois esta não existe neste contexto) para todas as outras Ondas, as quais têm em maior ou menor escala as caracteristicas em si presentes.

A Mãe de Todas as Ondas é vaidosa e bonita e como tal cobiçada por quem não a entende. Como não é entidida por todos na sua plenitude pode ser ameaçada de diversos modos, uns óbvios outros escondidos.

A Mãe de Todas as Ondas é a Casa e Lugar Sagrado dos corredores de vagas que procuram nesta forma viva da Natureza parte essêncial da energia fundamental à vida quotidiana e á busca de algo muito para lá da mera aparência física das coisas.

30/03/09

"Fogo" Anti-Comercial

Será este o Ínicio de uma Nova Mentalidade?

"‘Fire’ is an anti-commercial, spiritual insight into the art of wave riding that aims to unite surfers of all forms, and even non-surfers."
in http://www.tsunamimag.com/articles/mike-stewart--fire.html

O recente filme de Mike Stewart é considerado pela critica como algo anti-comercial, não apenas não-comercial, mas anti-comercial, ou seja, como algo que se insurge contra o comercialismo existe neste meio aquático. Fico na dúvida se este anti-comercialismo será genuíno ou apenas mais uma forma comercial de vender a "
art of wave riding". Acreditando que é genuíno será uma importante chama na construção de uma nova mentalidade que assume o acto de correr Vagas de Mar como algo de espiritual e muito mais extenso do que o simples desporto, moda, tendência ou negócio. Quem entende o que é algo anti-comercial facilmente entenderá a necessidade de mudança de mentalidades e atitudes implicita no conceito, o que na sua aplicação prática divide os conceitos comercial e soul, apontando-os como conceitos opostos.

A ser verdade Mike Stewart poderá deixar de ser um mero 9x campeão do mundo de Bodyboard para se tornar em algo maior. Talvez num futuro admita publicamente que toda esta panafernália de competições, de marcas e de show-off não passam de coisas sem valor. Este seria um acto de coragem equiparado (ou quiça maior) ao de enfrentar as maiores e mais pesadas Ondas do planeta.

Quem sabe se ainda o convido para participar aqui neste blog...

PS: não vi nem comprei o filme. O trailer está no youtube e é grátis.

01/01/09

Evolução x Usurpação x Revolução x Devolução- Parte I

Correr vagas de Mar tem sido um processo desenvolvido ao longo de séculos, inicialmente em diversos pontos do Pacífico (?), sendo trazido para o ocidente nos anos 20/30 do séc.xx por alguns entusiastas/praticantes, e não por qualquer tipo de marca pois nesta altura estas não existiam. Cai assim por terra a falsa teoria de foram as marcas que inventaram o "surf".

No presente momento vivemos o período da Usurpação, no qual a Indústria (do surf, bodyboard e afins) tomou para si todo o controlo do contexto dos agora denominados "desportos de ondas". A Indústria com a colaboração dos média projecta na sociedade toda uma série de (falsos) "idolos" competidores e free-riders patrocinados que se apresentam como modelos de um modo de vida, o qual todos os restantes praticantes devem seguir. Claro está que para ser um surfista (ou simlar) moderno cada um de nós deve ter todo um conjunto de objectos materiais que façam de nós aderentes miltantes ao "surfing way of life", tendo sempre como deus uma qualquer marca, a qual devemos seguir e idolatrar sem questionar. As marcas passaram a ser tudo. As marcas passaram a ser indissociáveis das Ondas, chegando mesmo tornarem-se mais importantes do que as Ondas: o patrocinado pela marca x apanhou a maior Onda do mundo e só fez porque na sua aventura mediática usou o prancha z ou o fato y. Este passou a ser o pensamento actual aceite pela maioria dos ditos surfistas.

É deste modo necessário que se processe uma Revolução de mentalidades que tranforme cada praticante num indivíduo dotado de uma consciência bastante mais abrangente do que a actual, na qual somos apenas consumidores amorfos e paineis publicitários através do surf-wear. Com esta Revolução de mentalidades a Indústria será forçada a tomar o seu devido lugar: servir quem a sustenta ao invés de se servir sem qualquer retorno social ou ambiental. Aqui terá inicio a fase da Devolução. 

Na fase da Devolução a indústria terá necessariamente, por via da evolução da mentalidade dos praticantes, que servir e contribuir de forma positivamente activa na sociedade e no contexto das actividades de Ondas. Deixará de ser o topo para ser o sustento, deixará de a raínha para se tornar a serva. Deste modo o largos milhares ganhos com o surf, bodyboard e afins (considero tudo amesma indústria) serão usados não para comprar barcos e aviões para explorarem as Ondas, mas sim em projectos de carácter ecológico e ambiental, não para financiar viagens milionárias a equipas de patrocinados pelo mundo, mas sim para financiar projectos de protecção a Ondas ameaçadas, construção de fundos artificiais que permitam aumentar a qualidade das Ondas existentes,  e escoar o número de praticantes em determinadas zonas costeiras. A indústria passará a a usar o dinheiro ganho não apenas e unicamente para se sustentar, mas sim para servir o interesse real de quem a sustenta. Será assim obrigada a tornar-se uma indústria consciente. Cabe a cada um de nós tornar esta Devolução uma realidade.