01/11/09

Campeonatos do mundo e outras coisas realmente pouco importantes I























Em Portugal durante este ano realizaram-se 5 "importantes" etapas dos circuitos mundiais
de bodyboard e de surf. Algumas mentes brilhantes afirmam que estes eventos são uma enorme vantagem para os desportos de ondas e até para a economia do país. Certo é que trazem dinheiro ao comércio local, que dinamizam a vertente competitiva nacional, que geram muito dinheiro e tal e tal. E para quem surfa (leia-se quem surfa apenas por prazer e amor à arte) quem vantagens trazem? Dos milhões ganhos que percentagem é usada para promover a preservação das várias ondas ameaçadas em todo o país? Será que nos locais onde foram realizadas essas provas deixaram de haver descargas de esgotos a céu aberto (Molhe Leste e Monte verde) ou que se aumentou a sensibilidade das autarquias para a preservação das Ondas?

Parece-me óbvio que qualquer receita financeira gerada por quaquer coisa relacionada com os "desportos de ondas" deveria reverter acima de tudo e em primeiro lugar em favor da comunidade e não apenas a favor dos competidores que ganham os prize-money ou para a economia local que aproveita a situação para ganhos extra sem qualquer reinvestimento no surf ou bodyboard nos seus diversos contextos. Algumas mentes brilhantes dirão que é um benefício, uma mais valia e outros argumentos similares poder ver ao vivo os melhores do mundo. Pois para mim este argumento nem sequer é argumento e acredito que existam mais pessoas que não se contentam em que o retorno do surf business perante a comunidade seja apenas presente-á-las com os melhores artistas do circo de surf e bodyboard mundial. "Com pápas e bolos..." diz o ditado popular.

Com os milhões ganhos e gastos não seria mais útil promover a construção de fundos artificiais que protejam a costa da erosão do mar, que aumentem a diversidade de opções e a qualidade das ondas em diversos lugares que sofrem de excesso de praticantes por m2. Isto sim seria uma vantagem real para toda a comunidade e o caminho mais correcto para dar resposta a actual realidade. Há que entender que o surf business tem uma lógica fechada na qual se serve a si mesmo e apenas áqueles que nele participam, esquecendo-se totalmente da sua base de sustentação que é a comunidade, que não compete, que é anónima e que de uma ou outra forma surfa por por amor à arte. O pior é mesmo quando uma parte significativa (talvez a maior parte mesmo...) dessa comunidade, não exerce o seu direito em exigir responsabilidade e contrapartidas em relação aos negociantes das ondas, abdicando do seu sentido crítico que foi trocado pela adoração dos idolos, dos campeões, das marcas e dos campeonatos para português ver.

2 comentários:

Anónimo disse...

Antes de se "ARROTAR" postas de pescada ao desbarato, é necessário conhecer com alguma profundidade as questões de que se fala. Falando no caso do WQS no Monte Verde, esse campeonato fez mais por aquela praia e e consequentemente pela Cidade da Ribeira Grande e concomitantemente por todos os seus cidadãos, do que muitos artigos de jornal, rádio e televisão que foram sendo públicados ao longo de mais de 15 anos. Só para que saiba, pela primeira vez aquela praia passou a ter uma Máquina para limpar a praia e a questão do ordenamento do território e a reabilitação de toda a envolvencia do Monte Verde, ficou na ordem do dia, antes e depois do WQS. Por fim uma passagem biblica, Felizes os pobres de espirito pois é deles o reino dos céus.

Altar Mar disse...

Caríssimo Anónimo,

A ingenuidade é uma "benção" que ajuda os politicos a ganhar eleições e que faz os "ricos de espirito" acreditarem em tudo o que lhes dizem. É claro que o areal do Monte Verde foi limpo para este campeonato, mas será que continuará a ser limpo frequentemente até ao próximo campeonato? E a ribeira também já está despoluida? Espero que sim! ou será que só está limpa nos dias em que se realiza o campeonato? Espero que não!

Tens todo o direito de acreditar que foi o WQS o responsável pela melhoria imediata, presente e futura, de toda a zona envolvente e até da cidade, incluindo o tratamento de esgotos, ordenamento do território etc. Eu não acredito nessa mudança radical e imediata apenas pela realização de um campeonato.

No dia em que o WQS, o WCT ou outro WC qualquer tiverem uma verba, uma politica financeira de retorno ambiental e social a ser usada directamente nos lugares onde montam o seu circo, então ai deixarei de arrotar postas de pescada, passarei a achar que fazem directamente algo de positivo e louvarei publicamente a sua acção. Caso essa verba já exista (e eu desconheça tal facto), peço então que me ilucides para que reconheça neste blog a minha falha.

Lembro-me de uma etapa de um WQS ou WCT no Chile em que uma associação ambientalista local solicitou uma verba ao patrocinador da etapa (o mesmo que fez agora a festa em Peniche) para pôr em andamento diversas acções contra a poluição marítima ao redor da zona de competição. A resposta foi: "We give no Money..." pois claro, o dinheiro faz-lhes falta para outras coisas mais importantes como pagar a viagem dos seus patrocinados para a próxima etapa do circuito.

Como referes e bem: "Felizes os pobres de espírito pois é deles o reino dos céus." Se me permites eu acrescentaria "Felizes os ingénuos..."

Agradeço-te a tua participação e opinião, pois ao contrário dos "opinion makers mainstream" espalhados por essa net gosto que me digam que estou errado, pois isso seria sinal que algo no surf business estaria a mudar. Seria sinal que sua preocupação única e fundamental não era apenas o mercantilismo.

PS: Também não acredito no surf-turismo massificado como forma de rentabilização das Ondas e também não acredito num estudo universitário que diz que uma Onda vale milhões por ano desde que tenha 200 turistas em permanência instalados em seu redor, mas isso é assunto para outro texto.