Associado ao turismo dos campeonatos, está também o turismo de surf de forma massificada, o qual tem sido alvo de estudos universitários e financeiros sobre a sua viabilidade e benefício económico para o país. Um "cluster" (mercado-alvo) por explorar dizem as iminentes figuras que se esqueceram de colocar nas suas equações matemáticas a mais importante variável que acenta no simples facto de que o excesso de praticantes não ser compatível com o desenvolvimento sustentável e sustentado da actividade e que ao massificar tendo em vista objectivos de milhões de euros por ano se mata a galinha dos ovos de ouro.
Num desses estudos era apresentado um panorama no qual 10 Km de costa portuguesa com ondas de qualidade e que tivessem em permanência 2000 (dois mil) turistas a ficarem na zona uma semana representaria uma receita anual de 100 milhões de euros. Ora 2000 turistas divididos por 10 Km daria 200 turistas por cada km ou seja 5 pessoas por metro, o equivalente à lata de sardinhas. Acrescentando a estes 2000 turistas outros 2000 residentes (certamente que serão muitos mais) dá para entender que algo iria correr muito mal com todos estes muitos mil praticantes dentro de água a disputarem ondas e claro está que esses 2000 turistas apenas teriam acesso aos restos de ondas que os residentes (já de si demasiados) lhes deixassem. Exemplos negativos como este são uma realidade na Austrália, California, Canárias e no Havai com todas as consequências negativas conhecidas ao mesmo tempo que continuam a existir projectos de engenharia marítima que poêm em risco alguma ondas conhecidas e que atraem milhares de turistas.
Até entendo a lógica bem intencionada de quem fez este estudo que teria como finalidade mostrar que a preservação das ondas poderia ser uma mais valia para a economia de uma região, mas na realidade este estudo é apenas baseado em factores técnicos esquecendo o factor humano que é o mais importante e complexo na avaliação de qualquer situação. Por outro lado colocar a questão apenas no dualismo: turismo massificado versus destruição das ondas é reduzir as opções, anular a democracia em que vivemos (ainda é uma democracia, não é? ou pelo menos dizem-nos que sim...) e apresentar argumentos errados para a resolução dos problemas ao mesmo tempo que se criam novos problemas em cima dos já existentes.
03/11/09
01/11/09
Campeonatos do mundo e outras coisas realmente pouco importantes I
Em Portugal durante este ano realizaram-se 5 "importantes" etapas dos circuitos mundiais de bodyboard e de surf. Algumas mentes brilhantes afirmam que estes eventos são uma enorme vantagem para os desportos de ondas e até para a economia do país. Certo é que trazem dinheiro ao comércio local, que dinamizam a vertente competitiva nacional, que geram muito dinheiro e tal e tal. E para quem surfa (leia-se quem surfa apenas por prazer e amor à arte) quem vantagens trazem? Dos milhões ganhos que percentagem é usada para promover a preservação das várias ondas ameaçadas em todo o país? Será que nos locais onde foram realizadas essas provas deixaram de haver descargas de esgotos a céu aberto (Molhe Leste e Monte verde) ou que se aumentou a sensibilidade das autarquias para a preservação das Ondas?
Parece-me óbvio que qualquer receita financeira gerada por quaquer coisa relacionada com os "desportos de ondas" deveria reverter acima de tudo e em primeiro lugar em favor da comunidade e não apenas a favor dos competidores que ganham os prize-money ou para a economia local que aproveita a situação para ganhos extra sem qualquer reinvestimento no surf ou bodyboard nos seus diversos contextos. Algumas mentes brilhantes dirão que é um benefício, uma mais valia e outros argumentos similares poder ver ao vivo os melhores do mundo. Pois para mim este argumento nem sequer é argumento e acredito que existam mais pessoas que não se contentam em que o retorno do surf business perante a comunidade seja apenas presente-á-las com os melhores artistas do circo de surf e bodyboard mundial. "Com pápas e bolos..." diz o ditado popular.
Com os milhões ganhos e gastos não seria mais útil promover a construção de fundos artificiais que protejam a costa da erosão do mar, que aumentem a diversidade de opções e a qualidade das ondas em diversos lugares que sofrem de excesso de praticantes por m2. Isto sim seria uma vantagem real para toda a comunidade e o caminho mais correcto para dar resposta a actual realidade. Há que entender que o surf business tem uma lógica fechada na qual se serve a si mesmo e apenas áqueles que nele participam, esquecendo-se totalmente da sua base de sustentação que é a comunidade, que não compete, que é anónima e que de uma ou outra forma surfa por por amor à arte. O pior é mesmo quando uma parte significativa (talvez a maior parte mesmo...) dessa comunidade, não exerce o seu direito em exigir responsabilidade e contrapartidas em relação aos negociantes das ondas, abdicando do seu sentido crítico que foi trocado pela adoração dos idolos, dos campeões, das marcas e dos campeonatos para português ver.
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