28/02/08

Soul Bodyboard X Bodyboard Comercial

Na imagem a analogia perfeita para representar a diferença entre Soul e Comercial como formas opostas e distintas de lidar e apreender o acto de Surfar, o Mar e as Ondas.

De todos os conceitos ligados bodyboard e ao surf existem duas abordagens opostas que determinam a forma como se olha para o surfar e que, de um modo mais ou menos importante (depende de cada um), acabam por influênciar a nossa vida em relação às Ondas e ao nosso percurso de vida a elas dedicado. Os meios de comunicação da especialidade actuais (revistas e sites) têm uma certa tendência para confundir este conceitos, especialmente no que diz respeito ao soul e ao free bodyboard, que muitas vezes nada tem que ver um com o outro.

Definindo estes conceitos:

Soul Bodyboard (ou soul surfing): É a abordagem mais evoluida do acto de surfar. Entende-se neste conceito que surfar uma Onda é um acto de harmonia com a Natureza em que cada praticante se exprime técnica e pessoalmente, quase como uma dança entre Ser Humano e Onda, entre nós e o meio ambiente que nos rodeia. Este conceito engloba o espíirito original de surfar, no qual estava unicamente presente o prazer de correr ondas, e simutâneamente (dependendo das convicções e crenças de cada um) uma ligação espiritual a algo superior. O Soul Bodyboard (ou soul surfing) é um caminho que se percorre no qual as ondas são um meio para que se atinja um patamar de existência mais elevado e implica um entendimento profundo do que realmente é estar no Mar tendo as Ondas como um dos principais motivos da existência individual. Neste conceito surfar não é apenas uma das facetas na vida, mas sim a faceta mais importante que ao longo dos anos determina as decisões individuais de cada um. Um Soul BodyBoarder será necessáriamente alguém que rejeita a visão comercial e a promoção pessoal, vivendo para surfar e não do surfar, uma vez que não retira daqui divendos financeiro. Surfar Ondas perfeitas e evoluir constantemente na sua busca será o único prémio que esta abordagem pretende.

Bodyboard Comercial (ou surf comercial): Esta abordagem têm como objectivo essêncial a exploração comercial das Ondas e de Surfar ao serviço de uma marca que paga ou patrocina alguém para a representar de forma a que essa representação se traduza em receitas e retorno financeiro. Esta forma de ver o surfar está ligada, ao instinto primitivo e básico de tudo querer transformar em dinheiro e a uma mentalidade mercantil que apenas vê no lucro a sua forma de actuação. Um Bodyboarder Comercial (ou Surfista Comercial) pode ser um competidor ou um free surfer, mas seja qual for a situação está sempre a representar uma marca e a vender-se a si e ás Ondas, sendo muitas vezes este o único objectivo das suas viagens e surfadas. Quem compete e quem serve os interesses comerciais das marcas e da indústria por definição nunca poderá ser um praticante Soul.

10 comentários:

Anónimo disse...

Peço desculpa pelo meu comentário porque já percebi que esta é uma linha fundamental da maneira como encaras o mar e a tua relação com este, mas esta não é uma visão demasiado maniqueísta?

Será que quem aproveita os benefícios da indústria do surf/bodyboard para fazer o que mais gosta na vida e tirar disto alimento (espiritual e não só), deve ser censurado?

Creio que a competição, que é, ao fim ao cabo, a faceta (pro)motora da indústria não deve ser diabolizada. Até porque pode ser encarada como uma forma de fazer evoluir a técnica e a tecnologia que nos ajudam a usufruir do mar.

E até por conhecer outros desportos mais "profissionais", penso que o surf e o bodyboard ainda são dos mais salutares.

E quanto à tal "massificação" do surf/bodyboard...não me parece intelectualmente honesto apregoares a relação ontológica homem-mar e depois recusares a todos quanto a queiram vivenciar o direito de o fazer.

Que alguns não darão a essa relação a devida importância e que usem o mar como "um meio de se promoverem", aceito, mas não me parece que esses durem muito, não?

Quanto a todos os outros, não creio que devas reclamar para ti o estatuto de único "Homem do Mar". Porque concordarás comigo quando digo que o somos todos. Até biologicamente falando.

Cumprimentos e parabéns por teres convicções. Espero que não as deixes cristalizar.

Altar Mar disse...

Por falta de oportunidade para escrever palavras minhas deixo aqui em tom de resposta parcial as palavras de outro:


"I wish that when they asked us:
'What is surfing?' I would have said it's a spiritual activity,
and not just a sport, because that's what put us on the wrong track..."

Nat Young - 1º Campeão do Mundo de Surf.


Oportunamente responderei por palavras minhas caso alguma dúvida se mantenha.

Anónimo disse...

"Not just a sport" significa que além de um desporto...

O problema de uma citação descontextualizada é que pode ser interpretada de muitas formas.

Meu caro amigo (desculpa o abuso do tratamento, mas penso que as coisas em que concordamos são em muito maior número do que aquelas em que discordamos) é claro que surfar uma onda tem muito de espiritual mas como actividade complexa que é (como tudo o que é humano), uma coisa não exclui a outra.

O que quero dizer é que não existe nem preto nem branco mas infinitos tons de cinza.

PS: fico à espera da TUA resposta. Abraço

Altar Mar disse...

A citação está perfeitamente contextualizda e podes ter acesso ao sentido da mesma no filme Litmus, que mais do que um banal filme de surf é um documentário de qualidade.

Nat Young assume claramente que o surf (e o BB, digo eu) se encaminhou para um lado errado ("that's what put us on the wrong track..."). Paralelamente já li sobre outros "pais" do surf moderno que assumem posições idênticas.

O que existe hoje é uma total subversão de um determinado espírito que esteve presente num certo início deste processo no qual o que contava era a Onda surfada. Hoje o que conta é, basicamente, o nome da marca patrocinadora de quem surfou a tal Onda.

Se as sábias palavras de Nat Young, que certamente tem uma visão mais madura, acertada e baseada numa experência de vida e de surf maior do que a grande maioria de nós, não te convencem, certamente nada do que poderei escrever na minha resposta terá algum efeito.

Entendo perfeitamente que na vida não haja nem só preto nem só branco, mas recuso que tudo se resuma a infinitos tons de cinzento, pois consigo ver uma verdadeira infinidade de todo o tipo de cores que ultrapassam largamente os meros tons de cinzentos de referes. Talvez aqui esteja a causa da diferença das nossas opiniões.

Para finalizar afirmo que felizmente ainda conheço alguns Homens do Mar, aqueles que vivem em prol de surfar e não usam o surfar em prol das suas necessidades meramente materiais. "Soul" e dinheiro não andam bem juntos tal como diz o ditado "Amigos, amigos,negócios à parte."

Anónimo disse...

Repito, concordamos em mais do que aquilo que discordamos. Quanto às "sábias palavras" de Nat Young, os grandes homens também se en ganam e até as melhores criações podem fugir do controle dos seus criadores, a história está cheia desses exemplos.

E a tua resposta interessa-me mais porque a tua realidade é mais próxima da minha embora as nossas percepções da mesma sejam diferentes.

O que quero dizer com isto é que o surf (no sentido lato) é uma experiência espiritual, claro, quem duvida disso? Mas, insisto, porque carga de água é que um Ryan Hardy ou um Mike Stewart (que, heresia do caraças, até faz dinheiro a vender pranchas) não podem experimentar o lado espiritual de surfarem sozinhos numa onda qualquer, secret spot ou Carcavelos cheio de gente (mesmo que aí seja muito mais difícil)?

É pá, mas se não distingo surf e bodyboard no sentido lato e espiritual, já distingo no lado comercial. Aí concordo com Nat Young: é verdade que o "monstro" está fora de controle. Mas o que aconteceu é que é uma actividade humana, no sec. XXI, e está submetida às mesmas regras. Foi tomaddo pelo dinheiro e pela moda e pelo consumismo.

Ok, mas apesar de tudo, ninguém nos tira o prazer (espiritual, sim), de surfar uma onda. Porque quando estás numa onda perfeita, não interessa o que se passa ao redor na tua vida, estás mais perto do divino. É a única maneira que tenho de o descrever.

Isso ninguém nos pode tirar, nem que tentem muito. Porque o mar estará sempre lá.

Altar Mar disse...

Como já referi dinheiro e "soul" são conceitos que não colam bem um com o outro.

Quando o acto de surfar se mistura com contratos e marcas, viagens para sessões fotográficas e anúncios publicitários, campeonatos para divertir as massas e divulgação de secrets para encher capas de revista e ganhar dinheiro ou fama, perde-se a verdadeira essência de surfar apenas por prazer para se substituir esse surfar por prazer por outros objectivos mundanos e mesquinhos.

Isto são coisas que se entendem, mas não se explicam e cabe a cada um fazer o seu percurso e chegar às suas conclusões.

Anónimo disse...

Claro que não colam. Mas existem, independentemente um do outro, e às vezes, nem por isso.

Boas ondas (se bem que nesta altura esteja complicado)

Altar Mar disse...

M.C,

Na sua essência estes conceitos (soul e comercial) buscam objectivos totalmente diferentes e até opostos. Como já referi o entendimento de cada um destes conceitos está dependente do eventual entendimento que cada um tem, ou poderá vir a ter, sobre estes assuntos.

Neste blog apresento algumas ideias que espero poderem contribuir para uma mudança no modelo de pensamento predominate que poê as marcas e o "business" no topo da pirâmide, quando na realidade deveria estar na base, apenas como parte não-principal de todo este processo.

Esta mudança de modelo será o tema de um dos próximos textos que pretendo escrever.

choco disse...

blog ta muita malino,ja tem o link no meu..as poucas fotos sao de optima qualidade e lindissimas..parabens ..sempre a ripar!!
spotdoxoco.blogspot

Anónimo disse...

Bom, acho que os dois disseram coisas muito acertadas... A índustria precisa de crescer para que cada vez mais possamos usufruir do surf da melhor forma e em qualquer lugar... Mas por outro lado (fazendo uma comparação meio estranha)na arte o que é relevante são os artistas e não as marcas dos pínceis ou das tintas, as quais, embora tenham vindo a melhorar e a ser desenvolvidas, não assumem um papel de destaque deixando esse papel para quem interessa... o artista!!