Uma das principais críticas feitas aos simpatizantes da vertente soul (e por isso não-comercial) de surfar é o facto de usarem fatos e pranchas criados pela indústria que criticam e que paralelamente sem esta indústria não existia surf ou bodyboard.
A questão aqui não é a critica à existencia de marcas, mas sim o total dominio destas no contexto das Ondas e actividades associadas. A crítica feita é a deturpação de surfar como um acto de comunhão com a Natureza, para se tornar num mero produto de consumo que apenas serve para vender algo e promover egos sem olhar a meios para atigir fins. As marcas e a indústria têm o seu papel e importância no referido contexto, mas não são a fonte, o ínicio nem o fim do processo. Correr Ondas começou como uma mistura entre ritual cerimonial e actividade lúdica, sendo posteriormente e ao longo do tempo transformada num mero desporto, muitas vezes totalmente desprovido de alma, no qual cada Onda corresponde apenas a uma pontuação que visa encontrar um vencedor que por sua vez vende as marcas que o patrocinam. De um extremo ao outro deste processo (in)volutivo desenvolveram-se várias abordagens que pendem mais para um extremo ou para o outro.
Uma outra crítica à vertente soul baseia-se no suposto argumento de que todos nós que vamos ao mar correr Ondas devemos gratidão às marcas e à indústria que fabricam o diverso material que utilizamos. Esta suposta gratidão esgota-se no exacto momento em que se paga (e bem) pelo material utizado para surfar, sendo que as marcas é que deveriam agradecer por haver quem lhes compre produtos e lhes pague o sustento e não o contrário. Ao criar novos produtos e materiais a industria não está a fazer favor algum a quem surfa, mas sim a encontrar meios de poder continuar a vender e a sustentar-se.
Querer negar o direito de quem surfa criticar a forma de actuação do surf e bb business é o mesmo que dizer que quem surfa não pode ter consciência e preocupações ambientais, uma vez que utiliza produtos derivados do petróleo para o fabrico de pranchas e fatos. Mais uma vez a responsabilidade desta utilização de materiais poluentes deveria ser uma preocupação primeira dos fabricantes que tem a responsabilidade de encontrar alternativas viáveis (tal como as pranchas surf feitas em balsa). A partir do momento em que existe possibilidade de escolha cabe ao consumidor agir de acordo com as suas convicções ambientais.
Pessoalmente penso que existe uma sobre-valorização do lado comercial/competitivo que fomenta uma mentalidade agressiva-competitiva na qual existe constantemente uma fricção pouco saudável. Simultâneamente as marcas e indústrias estão apenas voltadas para si mesmas e para os seus lucros, não existindo um retorno social visível para com o a comunidade que a sustenta nem para com o meio ambiente.
29/08/08
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